quarta-feira, 30 de junho de 2010

Nunca Fui Primeira Dama...


"Pertenço a uma zona de intimidade que me faz humana, não divina. Sou uma artista, não uma heroína contemporânea, odeio essa desproporção, não quero que esperem que eu seja o que não sou. Não devo mais aos mártires do que aos meus pais, à minha resistência, à minha própria história pessoal ancorada aqui em minha simples vida cubana.

Não posso continuar tentando ser como Che, nem herdar a pureza de Camilo, nem ter a valentia de Maceo, o arrojo de Agramonte, a coragem de Mariana Grajales, o espírito errante e criativo de Martí, o silêncio estoico de Celia Sánchez; minha proeza é singela: sobreviver nesta ilha, evitar o suicídio, suportar a culpa de minhas dívidas, o acaso de estar viva, e desligar-me definitivamente desses persistentes nomes de guerra e de paz.

Não quero ser a mártir dos mártires, de suas epopeias e de sua grande épica. Diante das estátuas dos heróis, pensei que minha morte deveria ser simples, minuciosa, cuidada, discreta.

Meus verdadeiros heróis são meus pais, vítimas de uma sobrevivência doméstica, calada, dilatada, dolorosa. Desintegrados numa seita de adorações e desencantos, eles perderam a razão.

Derrubados como o muro, ao olhar para o outro lado, o único patrimônio que lhes restava era o mar; a baía escura e estrelada ou o Caribe luminoso de todos os dias. E nada disso pôde salvá-los. Deixaram de lado seus projetos pessoais para integrar o projeto coletivo.

Os líderes em primeiro plano e meus pais fora de foco, em profundidade de campo, longe, muito longe do protagonista. Eles foram figurantes devotados, duplos da grande obra, roteiro divino e encenação complicada.

Houve dias em que me senti órfã ou, para dizer de um modo mais conciliador, Filha da Pátria. Via meus pais durante breves intervalos. Não era algo particular, vários amigos se encontravam nessa mesma situação.
{...}

Meus pais não fi zeram a guerra para a vitória porque eram muito jovens, mas tampouco chegaram a tempo para as liberdades desse sonho ideal. Frustrados por não terem feito a Revolução, eles a sustentavam. Carregavam a sociedade como quem suporta uma viga sobre o corpo; todavia, quase sempre felizes por fazerem parte, por serem uma das vozes do grande coro, eles também resistiram. Isolaram-se bem no centro dessa geração capturada, sem encontrar saída.

Mas já chega, caros ouvintes, agora vamos ouvir um pouco de música enquanto fazemos uma pausa antes de tudo que hoje eu quero confessar."

{Trecho Extraído do Livro: Nunca Fui Primeira Dama - Wendy Guerra}

Sinopse: Com Nadia Guerra, seu alter ego ficcional, a romancista e poeta Wendy Guerra escreve a história proibida das mulheres de Cuba. Publicado em oito países, cruza ficção e realidade no relato de uma mulher obcecada pela ideia de encontrar a mãe, que a abandonou aos dez anos de idade. Imersão num bravo mundo feminino, a busca por Albis Torres é também uma viagem a seu próprio passado e às salas escuras do regime cubano. Ao trazer a mãe de volta a Havana, resgatada em Moscou com uma doença que lhe tirou a memória, Nadia Guerra descobre em uma caixa de objetos pessoais os rascunhos de um romance que Albis escrevia sobre Celia Sánchez, secretária pessoal de Fidel Castro, heroína da revolução cubana. Um livro que a mãe jamais conseguiu publicar, fruto de uma amizade que a forçara a abandonar a um só tempo sua filha e seu país. Com "Nunca Fui Primeira-Dama", Wendy Guerra reconstrói a vida da mãe e de Célia, síntese de uma revolução e seus efeitos sobre o destino e os sentimentos mais profundos do ser humano. No papel de sua própria personagem, a autora nos faz entrar em um relato de sombras, tanto das mais íntimas quanto das revoluções.
Ao materializar o romance censurado, Wendy Guerra coloca-se no papel de sua personagem, agora na vida real. E corajosamente enfrenta os limites do regime de Cuba, onde ainda mora e sua obra permanece sem publicação.

Opinião: Confesso não ser o meu estilo de leitura, mas o livro nos mostra bem como foi a Cuba no início da Revolução. Nos revela também o preço pago por ela. Ideias vigiadas, pensamentos que não podem ser revelados, preconceitos expostos. Tudo isso mostrado do ponto de vista da autora, quando resolve enfim, encarar seu passado e descobrir quem realmente foi sua mãe.

Editora: Benvirá
Assunto: Literatura Estrangeira-Romance
ISBN: 9788502095328
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição: 1
Número de Páginas: 255


Início: 28/06/2010
Término: 29/06/2010

domingo, 27 de junho de 2010

A Bela e a Fera...


Leitura até nos filmes da Disney (A Bela e a Fera)!

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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Nunca Fui Primeira Dama...


"{...}
Pertenço a uma zona de intimidade que me faz humana, não divina. Sou uma artista, não sou heroína contemporânea, odeio essa desproporção, não quero que esperem que eu seja o que não sou. Não devo mais aos mártires que aos meus pais, à minha resistência, à minha própria história pessoal ancorada aqui em minha simples vida cubana."

{Página: 7}

Nadia Guerra, personagem de Wendy Guerra
in Nunca Fui Primeira Dama

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Prazeres Incomparáveis...


Imagem Daqui!

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A Ilha..


"Conforme o barco ia se aproximando da ilha, Eleni segurava a mão de Dimitri cada vez mais forte. Estava contente pelo pobre menino ter alguém que cuidasse dele, e naquela hora se quer pensou na ironia da situação. Iria ensiná-lo e cuidar dele como se fosse seu próprio filho, e fazer o possível para garantir que sua educação não fosse interrompida por aquela terrível reviravolta da vida. Agora estavam próximos os suficiente para ver que havia algumas pessoas junto ao lado extremo da muralha da fortaleza, e percebeu que deviam estar esperando por ela. Por que outro motivo estariam ali? Era pouco provável que estivessem prestes a deixar a ilha.
Giorgis manobrou o barco com habilidade na direção do embarcadouro, e depois ajudou a mulher e Dimitri a desembarcarem.
{...}

Agora que estavam em Spinalonga, tanto Eleni quanto Dimitri tinham a impressão de terem cruzado um vasto oceano e de que suas antigas vidas já estavam a um milhão de quilômetros de distância.
Antes de Eleni pensar em olhar para trás mais uma vez, Giorgis tinha partido. Tinham combinado, na noite anterior, que não haveria adeus entre eles, e ambos mantiveram-se firmes nessa decisão. Giorgis já iniciava a viagem de volta e estava a cem metros de distância, com o chapéu enterrado fundo na cabeça, de modo que em seu campo de visão havia apenas as tábuas de madeira escura do barco."

{Trecho Extraído do Livro: A Ilha - Victoria Hislop}

Sinopse: Esse romance de vidas e paixões intensas desdobra-se no cenário do Mediterrâneo do início do século XX, passa pela Segunda Guerra Mundial e chega ao nosso tempo. A ilha é uma história de desejos, de segredos desesperadamente escondidos e do estigma de uma doença sobre quatro gerações de uma família inesquecível.
Prestes a fazer uma escolha crucial, Alexis Fielding ansiava por conhecer o passado de sua mãe, Sofia, que nunca falava sobre sua origem. Tudo o que admitia era ter sido criada em Creta antes de se mudar para Londres. No entanto, quando Alexis decide visitar a Grécia, Sofia lhe entrega uma carta endereçada a uma velha amiga, e garante que, desse modo, a filha poderá saber mais.
Ao chegar ao vilarejo de Plaka, em Creta, a jovem surpreende-se com o fato de que bem diante do local, na distância de uma curta travessia de barco, ergue-se a deserta ilha de Spinalonga ? sede da antiga colônia de leprosos da Grécia, desativada. Depois de ser recebida pela grande companheira da mãe, Alexis descobre a história enterrada por Sofia por toda a vida: a trajetória de gerações devastadas pela tragédia, pela guerra e pela paixão. Assim, ela compreende por que está intimamente ligada àquela ilha, e como um segredo dominou toda a história do clã dos Petrakis.


Opinião: Mais um livro da autora que eu amei. Assim como o anterior (O Retorno), somos apresentados a uma história fascinante. O livro conta como viviam os infectados pela hanseníase numa ilha grega chamada Spinalonga. Lá acompanhamos o drama, os amores, as ilusões e a esperança de personagens que se tornam insequecíveis... Esse livro se tornou um dos meus preferidos!
Editora: Intrinseca
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
ISBN: 9788598078342
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição: 1
Número de Páginas: 365

Início: 17/06/2010
Término: 24/06/2010

domingo, 20 de junho de 2010

A Ilha...


Plaka, 1953

Um vento fustigava as ruas estreitas de Plaka, e o frio do ar de outono rodeava a mulher, paralisando seu corpo e sua mente com uma dormência que quase lhe aniquilava os sentidos mas não aliviava em nada a sua tristeza.
{...}

O pequeno barco oscilava e balançava no mar, desequilibrando pelo peso do carregamento de pacotes de tamanhos diversos, amarrados uns aos outros com um barbante. {...} A única indicação visível de que ela não era apenas mais um item do carregamento eram as longas madeixas do cabelo castanho-escuro que esvoaçavam e dançavam livremente ao sabor do vento.
{...}

Não era o início de uma travessa curta para entregar mantimentos. Era o início de uma jornada sem volta para uma vida nova. A vida em uma colônia de leprosos. A vida em Spinalonga.

{A Ilha - Victoria Hislop}

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Peso do Silêncio...


CALLI

"{...} O coração de Calli saltava toda vez que ouvia o pai dizer a palavra papai. Queria correr para dentro de casa e acordar a mãe, mas, apesar de Griff derramar pela boca todo o ódio por Calli sempre que bebia, jamais a machucara de verdade. A Ben, sim. À mãe, sim. Mas a Calli, nunca.
— Vou só jogar minhas coisas na sua caminhonete, Rog, e me encontro com você na choupana à tarde. Vai ter muito peixe bom hoje à noite, e vou comprar mais cerveja para nós no caminho.
— Griff pegou a mochila e a jogou na traseira da caminhonete.Com mais cuidado, pôs a vara e o molinete na carroceria. — Nós nos vemos, Roger.
— Certo, nos vemos mais tarde, então. Tem certeza de que sabe o caminho?
— Sei, sei, não se preocupe. Estarei lá. Vá aproveitando a dianteira para pegar alguns peixes. Você vai precisar, porque eu vou vencer!
— É o que veremos! — Roger gargalhou e foi embora.
Griff voltou até o lugar onde Calli estava, de pé e com os braços cruzados, apesar do calor.
— Agora, que tal passar um tempo com o papai, Calli? O assistente de xerife não mora muito longe daqui, mora? Do outro lado da floresta, não é? — O pai a agarrou pelo braço e a bexiga de Calli foi se aliviando, lançando um vigoroso jato de urina perna abaixo, enquanto ele a puxava na direção da floresta.
{...}

PETRA

Não Consigo acompanhá-los; eles andam rápido demais. Sei que ele me viu, porque virou a cabeça para mim e sorriu. Por que não esperam por mim? Eu os chamo, mas eles não param. Sei que estão em algum lugar à minha frente, mas não sei bem onde. Ouço uma voz na distância. Estou chegando mais perto."

{Trecho do Livro: O Peso do Silêncio - Heather Gudenkauf}

Sinopse: Romance de estreia da autora norte-americana Heather Gudenkauf, O peso do silêncio foi lançado no final de julho de 2009 no Canadá e nos Estados Unidos, onde ficou por 22 semanas na lista de mais vendidos do The New York Times, chegando à quarta posição. O romance aborda a relação conturbada de uma família a partir do desaparecimento de duas meninas de 7 anos, sendo que uma delas, Calli Clark, sofre de mudez seletiva desde que presenciou um acontecimento traumático provocado por seu pai alcoólatra. O peso do silencio concorre ao Edgard Award 2010 na categoria Melhor Romance de Estreia e tem lançamentos programados na Austrália e na Europa e ainda este ano.

Opinião:  Adorei a forma de escrever desta autora. Capítulos curtos e envolventes. Você fica totalmente preso as páginas tentando desvendar a história. O drama das meninas é comovente. E o final é digno de Hollywood!

Editora: Harlequin
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
ISBN: 9788576872795
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição: 1
Número de Páginas: 352

Início: 14/06/2010
Término: 16/06/2010

domingo, 13 de junho de 2010

O Peso do Silêncio...

Lendo:


Prólogo
Antonia

LOUIS E EU vemos você quase ao mesmo tempo. Na floresta, entre árvores ocas com colmeias de abelhas cujo cheiro pesado e doce sempre me fará lembrar esse dia, vejo lampejos da camisola cor-de-rosa que você usou para dormir na noite passada. Meu peito relaxa, e tremo de alívio. Mal noto suas pernas arranhadas, os joelhos sujos de lama ou a corrente em suas mãos. Eu me estico para envolvê-la em meus braços, dar um abraço apertado, encostar meu rosto em sua cabeça molhada de suor. Jamais vou querer que você fale, jamais pedirei que converse. Você está aqui. Mas passa por mim, sem me ver, para ao lado de Louis, e eu penso: Você nem me vê. É o uniforme de assistente de xerife de Louis. Boa menina! É a coisa mais esperta a fazer. Louis se agacha em sua direção, e fico presa à expressão de seu rosto. Vejo seus lábios se prepararem e sei, eu sei. Vejo a palavra se formar, as sílabas se adensando e escorrendo de sua boca sem esforço. Sua voz, nada insegura ou rouca pela falta de uso, e sim clara e firme. Uma palavra, a primeira em mais de três anos. Num instante, tenho você em meus braços e estou chorando, as lágrimas derramando muitas emoções, a maior parte gratidão e alívio, mas lágrimas de tristeza misturadas a elas. Vejo o pai de Petra desmoronar. A palavra escolhida por você não faz sentido para mim. Mas não tem problema, não me importo. Você finalmente falou.

Para Ler mais "Clique Aqui".

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

01 Ano...

"Eu sei que quando um paizinho dorme para sempre, ele não atende mais o
telefone, não aparece mais no portão. Não adianta chamá-lo pelo nome ou
dizer que é dia de futebol. É que quando um paizinho dorme para sempre,
ele fica assim, espalhado no mundo, em todas as coisas pequeninas,
e a gente precisa de muita delicadeza para encontrá-lo de volta.
No começo, a gente só o encontra nos suspiros da mãe,
nos olhos do cachorro esperando no portão, na cadeira vazia,
no remendo dos armários, nos pregos segurando os quadros,
na garrafa de vinho, pela metade.
Aos pouquinhos e devagar, a gente começa a encontrá-lo
nas alegrias do mundo, no vôo das cotovias,
no desenho das nuvens formando barquinhos e caravelas,
numa pessoa sem mágoa, nas toalhas sem nódoa,
e até quando felizes nossos olhos vão se enchendo d'água... "

{Rita Apoena}

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domingo, 6 de junho de 2010

A Casa do Lago e Jane Austen...


Alex: Kate, você já leu Persuasão?
Kate: Como?
Alex: De Jane Austen.
Kate: Sei quem é o autor. Sim, é meu livro favorito. Por que disse isso? Por que falou nisso?
Alex: Uma amiga me deu o livro, e queria saber sobre o que é a história.
Kate: É maravilhoso.
Alex: Sim.
Kate: Sim. É sobre a espera. Duas pessoas se encontram, eles quase se apaixonam, mas não é a hora certa. Eles precisam se separar. E depois, anos depois eles se reencontram. Eles têm outra chance, mas eles não sabem se tempo demais se passou. Se eles esperaram demais e se agora é tarde demais para dar certo.

{Trecho do Filme: A Casa do Lago}


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