domingo, 30 de outubro de 2011

Um Ano de Milagres...


Outono 1666
Tempo de Colher Maçãs

"Eu costumava amar essa época do ano. A lenha empilhada ao lado da porta, o odor de sua seiva ainda lembrando a floresta. O feno pronto, dourado sob a luz tênue da tarde. O rumor das maçãs rolando para dentro dos depósitos no porão. Odores e cenas e sons que anunciavam que este seria um ano bom: haveria comida e calor para os bebês quando a neve chegasse. Eu adorava andar por entre as macieiras, sentir a maciez cedendo debaixo dos pés ao pisar uma fruta caída. Aromas doces, fortes, de maçã podre e madeira molhada. Este ano, os montes de feno são escassos e a madeira empilhada é pouca, e nada disso me importa.

Trouxeram as maçãs ontem, um carro cheio para o depósito da reitoria. Uma colheita tardia, claro: vi marcas marrons em várias delas. Comentei com o carroceiro, mas ele me disse que tínhamos sorte de conseguir aquela qualidade, e suponho que tenha razão. Há poucas pessoas para fazer a colheita... Há tão poucas pessoas para fazer qualquer coisa! E os que restam entre nós perambulam como num quase torpor. Estamos todos cansados demais.

Peguei uma maçã que estava firme e boa, cortei-a em fatias finas como papel e a levei até aquele cômodo mal-iluminado em que ele se senta, imóvel e em silêncio. Tem a mão sobre a Bíblia, mas nunca a abre. Não mais. Perguntei-lhe se queria que lesse para ele. Ele virou a cabeça para me olhar, e me assustei. Já fazia dias que não olhava para mim. Tinha me esquecido do poder de seus olhos - do que eles eram capazes de nos fazer - quando ele nos fitava do púlpito e nos prendia, um a um, com o olhar. Os olhos ainda são os mesmos, mas o rosto está muito alterado, assim torcido e fatigado, com sulcos profundos. Quando ele chegou aqui, apenas três anos antes, toda a aldeia zombava de sua aparência jovem e ria da ideia de ouvir sermões de um moleque. Se o vissem agora, não ririam, ainda que se lembrassem do que é um riso."

{Trecho do Livro: Um Ano de Milagres - Geraldine Brooks}

Sinopse: Quando uma remessa de tecidos infectados vinda de Londres traz a peste para uma aldeia isolada nas montanhas, uma mulher luta pela sua sobrevivência e a de seus amigos e familiares. Acompanhe, a partir do ponto de vista da personagem, a história do ano da peste de 1666, a epidemia que matou quase um quinto da população inglesa. A cada pequena vitória diante da adversidade, dias se tornam meses, que completam um ano de milagres.

Opinião: MARAVILHOSO!!! (Adoro os livros da Geraldine Brooks) Ela aborda o tema da peste que assolou essa pequena aldeia de maneira magistral... Eu li em dois dias, pois a leitura flui com muita facilidade... Eu recomendo!!! 


Título: Ano de Milagres, Um
Autor: Geraldine Brooks
ISBN: 9788520924396
Páginas: 328
Edição: 1
Tipo de capa: BROCHURA
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2010
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
Idioma: Português

Início: 27/10/2011
Término: 29/10/2011

sábado, 29 de outubro de 2011

Dia Nacional do Livro...


Pra mim é difícil falar simplesmente de gosto pelos livros, porque em matéria de livros meu caso é muito mais grave: é um amor que vem desde a infância, que me tem acompanhado a vida inteira, e ainda acima disto, é incurável”.

. José Mindlin .

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Jóia de Medina


Beduínos no deserto
Meca, 619
6 anos

Foi o meu último dia de liberdade. Mas teve início mais ou menos 1.001 dias antes disso: um raio de sol e o meu grito de alarme, atrasada de novo, o salto de minha cama, a fuga pelos cômodos sem janelas da casa do meu pai, minha espada de madeira na mão, meus pés descalços batendo no piso frio de pedras, estou atrasada estou atrasada estou atrasada.
Lampiões tremeluziam sua luz fraca nas paredes, uma pobre substituta do sol que eu amava. Quando passei pela cozinha, o cheiro forte e fermentado de mingau de cevada me enjoou. Mais rápido, mais rápido. O Profeta vai chegar logo. Se ele me vir, vai querer brincar, e sentirei falta de Safwan.
Mas eu devia saber que minha mãe me encontraria. Ela era mais vigilante que o demônio.
— Aonde pensa que está indo? — gritou ela quando, no meio do caminho, dei de encontro com a parede sólida formada por seu corpo com as mãos nos quadris.
Eu ia recuar, recuperar o fôlego e contorná-la, mas ela me agarrou com mãos fortalecidas por anos fazendo pão. Seus dedos seguraram meus ombros como garras de um falcão. Ela correu os olhos como mãos rudes sobre meu cabelo emaranhado pelo sono, minha camisola cor de areia marcada como um mapa da brincadeira do dia anterior: borrões arredondados onde eu havia me ajoelhado na terra, escondendo-me de inimigos beduínos. Um rasgão na manga causado na luta contra meus captores, Safwan e nossa amiga Nadida. Manchas vermelhas do suco de romã da refeição da véspera. Riscos de poeira da pedra imensa que Safwan e eu tínhamos rolado, silenciosamente, para debaixo da janela do nosso vizinho Hamal, o mais novo recém-casado de Meca.
— Você está imunda — disse minha mãe. — Não vai sair de casa desse jeito.
— Por favor, ummi, estou atrasada! — repliquei, mas ela chamou minha irmã.
— Nenhum filho meu vai a lugar algum parecendo um animal selvagem — disse ela. — Vá vestir uma roupa limpa e se encontrar com Asma no pátio. Ela vai domar esses seus cabelos desordenados enquanto busco água para lavar o cabelo da rainha de Sabá.
Ela estava se referindo à sua irmã de harém, Qutailah. Hatun de meu pai, a "Grande Dama", ou primeira esposa, Qutailah distribuía todas as tarefas no harém. Alta, pele morena, e cada vez mais gorda, ela invejava a pele clara e as mechas ruivas e revoltas de minha mãe, além de temer seu gênio temperamental. Desse modo, Qutailah estava sempre lhe lembrando quem era a primeira na casa, chamando minha mãe de durra, ou "papagaio", o nome para a segunda esposa. E designava à minha ummi as tarefas que geralmente cabiam às criadas, tais como puxar imensos alforjes de couro cheios de água do poço de Meca. Era uma tarefa humilhante, pois o poço de Zamzam fi cava no centro da cidade e todos podiam ver minha mãe voltando para casa irritada, com os alforjes pendendo de uma vara sustentada em seus ombros estreitos, respingando água. Enfrentar esse trabalho sempre deixava minha mãe mal-humorada. Não era a hora apropriada para discutir com ela.

{Trecho do Livro: A Jóia de Medina - Sherry Jones}

Opinião: História!!! (Para quem tem curiosidade sobre a época e os costumes...) Mostra bem o papel da mulher numa sociedade em que é dominada pelos homens... Achei uma abordagem interessante sobre o Profeta Maomé... Uma leitura bem interessante

Título: Jóia de Medina, A
Subtítulo: História de Luxúria, Amor e Intriga no Hárem do Profeta, Uma
ISBN: 9788501085429
Páginas: 434
Edição: 1
Tipo de capa: BROCHURA
Editora: Record
Ano: 2009
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
Idioma: Português
Início: 17/09/2010
Término: 26/10/2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Novas Aquisições/Diversão...


Essa é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa… Depois de ler esse livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como essa narrativa se desenrola.

{Pequena Abelha - Chris Cleave}

Quando uma remessa de tecidos infectados vinda de Londres traz a peste para uma aldeia isolada nas montanhas, uma mulher luta pela sua sobrevivência e a de seus amigos e familiares. Acompanhe, a partir do ponto de vista da personagem, a história do ano da peste de 1666, a epidemia que matou quase um quinto da população inglesa. A cada pequena vitória diante da adversidade, dias se tornam meses, que completam um ano de milagres.

{Um Ano de Milagres - Um romance dos tempos da peste - Geraldine Brooks}

O psiquiatra Andrew Marlow tem uma vida pacata e organizada, compensando a solidão com a dedicação ao trabalho e ao passatempo da pintura. Esta ordem é destruída quando o célebre e carismático pintor Robert Oliver ataca um quadro na Galeria Nacional e se torna seu paciente. Internado numa instituição psiquiátrica, o pintor remete-se ao silêncio absoluto e recusa-se a revelar as razões que o levaram a atacar a obra de arte que retrata o corpo nu de uma mulher subjugada por um grande cisne branco. A única coisa que Oliver faz é desenhar repetidamente a figura misteriosa de uma bela mulher vestida à moda do período vitoriano. Desesperado por compreender o segredo que atormenta o génio, o psiquiatra embarca numa viagem que o leva a conhecer as mulheres da vida de Oliver e a descobrir um trágico segredo esquecido há mais de cem anos. À entrada do labirinto, Marlow não sabe ainda que também ele será acometido por uma estranha obsessão.

{Os Ladrões de Cisnes - Elizabeth Kostova}

sábado, 15 de outubro de 2011

A Jóia de Medina


"Na verdade, nossos destinos estavam definidos desde o berço. Podíamos moldar o futuro, mas não escapar dele, por mais que penetrássemos o deserto."

{página: 267}