quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Mestre das Iluminuras...

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Briony jamais pôde se consolar com o pensamento de que fora pressionada ou intimidada. Porque isso não aconteceu. Briony caiu numa arapuca armada por ela própria, penetrou num labirinto construído por suas próprias mãos, e era jovem demais, estava impressionada demais, excessivamente sequiosa de agradar aos outros, para insistir numa retração. Não possuía essa independência de espírito, nem tinha idade suficiente para isso. Uma platéia imponente se congregara em torno de suas certezas iniciais, e agora estava esperando; ela não podia decepcioná-la ao pé do altar. A única maneira de neutralizar suas dúvidas era afundar ainda mais. Aferrando-se ao que julgava saber, estreitando seus pensamentos, reiterando seu depoimento, conseguiu evitar pensar na catástofre que apenas intuía estar causando. Quando a questão foi encerada, quando foi pronunciada a sentença e a platéia se despersou, um implacável esquecimento juvenil, um apagamento consciente, protegeu-a durante boa parte da adolescência.
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Ele caminhou com ela até Whitehall, em direção ao ponto de ônibus. Naqueles últimos minutos preciosos, ele passou-lhe o endereço, uma seqüência árida de siglas e números. Explicou que só voltava a ter licença depois que terminasse o treinamento básico. Então teria duas semanas. Ela olhava para ele balançando a cabeça, numa espécie de irritação, até que, por fim ele tomou-lhe a mão e apertou-a. Aquele gesto tinha que conter tudo o que não lhe fora dito, e ela respondeu com um aperto também. O ônibus chegou, e ela não soltou a mão. Estavam parados face a face. Ele beijou-a, primeiro de leve, mais depois aproximou-se mais, e, quando suas línguas se tocaram uma parte desincorporada de si próprio sentiu uma gratidão abjeta, pois ele sabia que tinha agora no banco de sua memória uma lembrança a que haveria de recorrer por meses. Era o que fazia agora, num celeiro da França, altas horas da madrugada. Abraçaram-se com mais força e continuaram a se beijar enquanto as pessoas passavam por eles na fila. Um gozador gritou alguma coisa no ouvido dele. Ela chorava, suas lágrimas caiam no rosto dele, sua dor retesava seus lábios, apertados contra o dele. Chegou outro ônibus. Ela se desprendeu, apertou-lhe o pulso, entrou no ônibus sem dizer palavra, sem olhar prá trás. Ele a viu encontrar um lugar e, quando o ônibus partiu, deu-se conta de que deveria ter ido com ela até o hospital. Havia desperdiçado minutos de sua companhia. Precisava reaprender a pensar e agir por conta própria. Começou a correr a Whitehall, na esperança de alcançar um ônibus na próxima parada. Porém o ônibus já estava muito distante, e logo desapareceu perto da Parlament Square.
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Tudo o que queria fazer era trabalhar, depois tomar um banho e dormir até chegar a hora de trabalhar de novo. Mas nada daquilo adiantava, ela sabia. Por mais que se esfalfasse em trabalhos braçais e nas tarefas mais humildes da enfermagem, por melhores e mais intensos que fossem os seus esforços, por mais que houvesse aberto mão dos conhecimentos que lhe proporcionaria o estudo, da oportunidade de viver num campus de universidade, ela jamais poderia desfazer o mal que causara. Ela não tinha perdão.”
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((Páginas: 206; 247 e 248; 341))

{Trechos Extraídos do Livro: Reparação – Ian MacEwan}

Sinopse: "Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou."

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Opinião: Simplesmente AMEI esse livro... Os personagens são muito bem acabados, a história e a época em que é ambientado são perfeitas... Tudo se encaixa como se fosse mágica... O final é surpreendente e muito bem bolado... Tudo o que deveria ser vivido e não foi por puro esgoismo de uma menina... Com certeza os personagens principais ficarão guardados comigo para sempre!!


P.S.: O filme também vale muito a pena! Assista ao trailer Aqui!

Editora: Companhia das Letras
Assunto: Literatura
ISBN: 853590235X
Idioma: Português
Edição: 1
Número de Páginas: 448

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