sexta-feira, 5 de março de 2010

O Senhor March...


Capítulo I

Virgínia é terreno duro
28 de outubro de 1861



Escrevo a ela nestes termos: Hoje à noite as nuvens realçavam o céu. O sol poente tingia de ouro e bronze todos os seus contornos, como se o firmamento fosse entremeado de preciosos filamentos.

Faço uma pausa para esfregar os olhos doloridos, que não param de lacrimejar. A linha que tracei talvez esteja um pouco menos do que consideraria 6na, mas não importa: ela é gentil em suas críticas. Minha mão levemente umedecida, onde percebo vestígios do líquido quase seco, treme de exaustão. Perdoe-me pela escrita sofrível. Com o exército em marcha, não encontramos espaço para reflexão ou tempo para correspondências. (Espero que minha querida jovem autora encontre tempo em meio às suas muitas boas obras para utilizar minha saleta, e que seus amigáveis ratos não se ressintam de uma curta ausência do costumeiro ninho.) Entretanto, sentado aqui, sob o abrigo de uma árvore frondosa, enquanto homens acendem fogueiras para cozinhar e contam piadas, encontro alguma paz. Escrevo na mesa dobrável que você e as meninas tiveram o carinho de me dar, e, embora tenha derramado e perdido meu estoque de tinta, não se incomode em me enviar mais. Um dos homens me mostrou uma receita engenhosa para um bom substituto desse produto, feito das últimas amoras-pretas da temporada. Graças a ele, posso lhe enviar, neste momento, palavras "amorosas"!

Você se lembra daquelas contracapas coloridas nas obras de Spenser que eu lia para vocês nas aconchegantes noites de outono, como esta? Então, minha querida, você poderá ver o céu como o vi hoje à noite, pois as cores serpenteavam o firmamento com a mesma alegre profusão.
E o sangue que se misturava à correnteza já carregada do rio, ondulado pelas botas, também formava um desenho parecido com o daquelas bonitas contracapas. Ou melhor, não é muito diferente da tinta carmim que a mão impaciente de nossa peque- na artista derramou sobre o assoalho. Porém essas palavras, claro, não escrevo. Prometi a ela que escreveria algo todos os dias, mas cumpro tal obrigação quando minha mente não está conturbada. É como se ela estivesse aqui comigo por um momento; sua mão calma, delicadamente me tocando o ombro. Dou graças, contudo, por ela não estar aqui, vendo o que eu vejo, sabendo o que vim a saber. E, mediante tal pensamento, justi6co minha censura: jamais prometi que escreveria a verdade.

Componho algumas palavras costumeiras de desejo conjugal, e prossigo com algumas concessões de ternura paterna: Penso sempre em cada uma de vocês, na sala, no escritório, em meus aposentos, no gramado; com livro ou com pena, de mãos dadas com minha querida irmã ou conversando a respeito de nosso pai, em algum lugar distante, tentando imaginar como vocês estão. Saibam que não consigo realmente deixá-las, pois, embora meu corpo esteja longe, minha mente as acompanha de perto e meu maior conforto está na afeição de vocês... Apelo, então, à premência de meus deveres, e termino com uma promessa de logo enviar mais notícias.

{Trecho Extraido do Livro: O Senhor March - Geradine Brooks}

Sinopse: Resgatando um dos personagens do clássico Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, Geraldine Brooks conta neste livro a história do senhor March, marido e pai ausente que vê seus ideais se perderem após vivenciar as sanguinolentas batalhas da Guerra Civil americana. À medida que o Norte sofre uma série de derrotas inesperadas durante o primeiro ano da guerra, o senhor March se vê obrigado a abandonar a família para defender a causa da União. Essa experiência acaba ocasionando uma mudança brusca em seu casamento e em sua vida, e desafia suas mais profundas crenças. Comovente, este romance muito bem entrelaçado adiciona uma reflexão adulta para o romance otimista de Alcott.

Para ler mais sobre o livro Clique Aqui!


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Opinião: Eu sou fã de Geraldine Brooks, esse livro nos mostra um pouco como foi a guerra civil americana e como pessoas normais, como o Sr, March um capelçao antes da guerra, as vezes tem seu lado mais negro exposto. Depois que a guerra acaba e ele volta pra casa tentando se ajustar e ajustar sua família depois de ter passado por tão dificies experiências... Achei bem comovente e muito bem escrito.

Título: Senhor March, O
Editora: Ediouro
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
ISBN: 9788500024177
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição: 1
Número de Páginas: 304

Início: 02/03/2010
Término: 05/03/2010

2 comentários:

Rúbia Barros disse...

olá..agora fiquei realmente curiosa para ler esse livro...

adoro visitar esse blog

um abraço...

Iêda Ferreira disse...

Geraldine Brooks não é a autora de As Memórias do Livro? Amei a trama daquele e, por ela, sou até capaz de ir correndo atrás desse.
Um beijo