sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Prisioneiro do Céu...



Barcelona, dezembro de 1957

Naquele ano, o Natal deu para amanhecer todo dia vestido de chumbo e geada. Uma penumbra azulada tingia a cidade, e as pessoas passavam cobertas da cabeça aos pés, com o hálito desenhando jatos de vapor no ar frio. Eram poucos os que paravam para admirar as vitrines de Sempere e Filhos e menos ainda os que se aventuravam a entrar e perguntar por aquele livro perdido, que esteve esperando por eles a vida inteira e cuja venda, poesia à parte, poderia contribuir para remediar as precárias finanças da livraria.
— Estou sentindo que hoje é o dia. Hoje a nossa sorte vai mudar — proclamei na animação do primeiro café do dia, puro otimismo em estado líquido. Meu pai, que desde as oito da manhã estava lutando com os livros de contabilidade, fazendo malabarismo com lápis e borracha, levantou os olhos do balcão e observou o desfile de clientes ariscos desaparecendo rua abaixo. 
— Deus te ouça, Daniel, porque nesse passo, se perdermos as vendas de Natal, não vamos ter como 
pagar
 nem a conta de luz de janeiro. 
— Fermín teve uma ideia ontem — sugeri. — Segundo ele, trata-se de um plano genial para salvar a livraria da falência iminente.
— Que o céu nos proteja. Citei textualmente:
— Quem sabe se eu fosse decorar a vitrine só de cueca, alguma mulher ávida de literatura e de emoções fortes não entrava para comprar? Dizem os entendidos que o futuro da literatura está nas mãos das mulheres e Deus é testemunha de que está para nascer uma dona capaz de resistir ao charme rústico desse meu corpinho 
sarado — repeti. Ouvi quando o lápis de meu pai caiu no chão e me virei.
— Palavras de don Fermín — acrescentei. Pensei que meu pai ia rir da ideia de Fermín, mas ao ver que ele não saía 
de seu silêncio, comecei a observá-lo com o rabo do olho. Sempere pai não parecia estar achando graça nenhuma naquele disparate e ainda exibia uma expressão pensativa, como se considerasse a possibilidade de levar a sugestão a 
sério.
— Mas olhe só, não é que Fermín acertou na mosca! — disse baixinho. Olhei para ele incrédulo. Talvez a seca comercial que nos assolava nas últimas semanas tivesse afetado o juízo de meu pai.
— Não vai me dizer que vai deixar Fermín passear de cueca pela livraria.
— Não, claro que não. É a vitrine. O que você disse me deu uma ideia. Talvez ainda dê tempo de salvar o Natal.
Vi quando desapareceu no fundo da loja e retornou vestido com seu uniforme oficial de inverno: casaco, echarpe e chapéu, os mesmos que eu conhecia desde pequeno. Minha mulher, Bea, não cansava de manifestar suas suspeitas de que meu pai não comprava roupa desde 1942 e todos os indícios diziam que tinha razão. Enquanto enfiava as luvas, meu pai sorria vagamente e seus olhos exibiam aquele brilho quase infantil que só os grandes projetos conseguiam provocar.
— É só um instantinho — anunciou. — Vou sair para tomar umas providências.
— Posso perguntar aonde vai? Meu pai piscou o olho.
— É surpresa. Você vai ver.
Fui atrás dele até a porta e vi quando partiu em direção à Puerta del Ángel num passo firme, uma silhueta a mais na maré cinzenta de passantes navegando por mais um longo inverno de sombra e cinzas.

{Trecho Extraído do Livro: O Prisioneiro do Céu – Carlos Ruiz Zafón}

Sinopse: Barcelona, 1957. Daniel Sempere e seu amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, estão de volta à aventura para enfrentar o maior desafio de suas vidas. Já se passa um ano do casamento de Daniel e Bea. Eles agora têm um filho, Julián, e vivem com o pai de Daniel em um apartamento em cima da livraria Sempere e Filhos. Fermín ainda trabalha com eles e está ocupado com os preparativos para seu casamento com Bernarda no ano-novo. No entanto, algo parece incomodá-lo profundamente.

Quando tudo começava a dar certo para eles, um personagem inquietante visita a livraria de Sempere em uma manhã em que Daniel está sozinho na loja. O homem misterioso entra e mostra interesse por um dos itens mais valiosos dos Sempere, uma edição ilustrada de O conde de Montecristo que é mantida trancada sob uma cúpula de vidro. O livro é caríssimo, e o homem parece não ter grande interesse por literatura; mesmo assim, demonstra querer comprá- lo a qualquer custo.
O mistério se torna ainda maior depois que o homem sai da loja, deixando no livro a seguinte dedicatória: "Para Fermín Romero de Torres, que retornou de entre os mortos e tem a chave do futuro". Esta visita é apenas o ponto de partida de uma história de aprisionamento, traição e do retorno de um adversário mortal. Daniel e Fermín terão que compreender o que ocorre diante da ameaça da revelação de um terrível segredo que permanecia enterrado há duas décadas no fundo da memória da cidade.
Ao descobrir a verdade, Daniel compreenderá que o destino o arrasta na direção de um confronto inevitável com a maior das sombras: aquela que cresce dentro dele. Transbordando de intriga e emoção, "O Prisioneiro do Céu" é um romance em que as narrativas de A sombra do vento e O jogo do anjo convergem e levam o leitor à resolução do enigma que se esconde no coração do Cemitério dos Livros Esquecidos. A Sombra do Vento superou a marca dos 13 milhões de exemplares vendidos.

Opinião: Zafón e seus livros em que a gente não consegue parar de ler... O livro cumpre muitissimo bem o seu papel, que é preparar os leitores para o último livro (sniff..) da saga de Fermím e Daniel... Impossivel não se apaixonar e se comever pela histório do fiel escudeiro dos Sempere... Alguns mistérios são esclarecidos nesse livro maravilhoso... Vale muitissimo a pena!

Título: O Prisioneiro do Céu
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9788581050737
Páginas: 248
Edição: 1
Tipo de capa: BROCHURA
Ano: 2012
Assunto: Literatuta Estrangeira
Idioma: Português

Início: 03/09/2012
Término: 06/09/2012


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