quinta-feira, 30 de abril de 2009

Moça com Brinco de Pérolas

“- Gostaria que pintasse você com seu pano de limpeza?
- Não sou eu quem devo dizer, senhor. O quadro não é meu.
Ele franziu o cenho. – Não, não é – concordou, como se falasse consigo mesmo.
- Não quero que me pinte com meu pano – falei, sem saber que ia conseguir.
- Não, não, tem razão, Griet. Não pintaria você com um pano na mão.
- Mas não posso usar as roupas da sua esposa.
Fez-se um longo silêncio.
– Não, espero que não. Mas não vou pintar você como uma criada – decidiu.
- Então com o quê, senhor?- Vou pintar como vi você pela primeira vez, Griet. Só o rosto.

{...}
- Tire a touca de cima do seu rosto – pediu ele, um dia.
- O rosto senhor? – repeti feito boba, e me arrependi. Ele preferia que eu não falasse, só obedecesse. Se falasse, que fosse alguma coisa que valesse a pena.
Ele não respondeu. Puxei o lado da touca que estava mais perto dele. A beirada engomada arranhou meu pescoço.
- Puxe mais pra trás, quero ver a linha do seu rosto desse lado – disse.
Fiquei indecisa, depois puxei um pouco mais – seus olhos percorreram meu rosto.
- Mostre a orelha.
Eu não queria mostrar, mas não tinha escolha.
{...}
- A sua touca – disse ele. – Tire.
- Não.
- Não?
- Por favor, não me peça isso, senhor.
{...}
- Você não quer ser pintada como criada, com o seu pano de limpeza e sua touca. Também não quer como uma dama, com cetim, pele, cabelo arrumado.
{...}
Ele mexeu na cadeira e levantou-se. Ouvi-o no quarto de despejo. Quando voltou, havia vários panos que colocou no meu colo.- Bom, Griet, veja o que pode fazer com isso. Ache um pano para enrolar na cabeça de forma que você não fique nem uma dama nem uma criada.
{...}
Coloquei a ponta pra dentro e arrumei as dobras, alisei o azul em volta da cabeça e voltei pra o ateliê.Ele estava olhando um livro e não percebeu quando sentei na cadeira. Fiquei como estava. Quando virei a cabeça para olhar sobre o ombro esquerdo, ele levantou os olhos. No mesmo instante, a ponta do pano amarelo soltou e caiu no ombro.
- Ah! – exclamei com medo que o pano caísse e mostrasse meu cabelo. Mas não caiu: só a ponta amarela se soltou. Meu cabelo continuou preso.
- Isso. Isso mesmo, Griet. Isso – aprovou ele.
{...}
- Você sabe o que o quadro precisa, a pérola reflete a luz. Não vai ficar completo sem isso – disse ele, baixinho.Eu sabia. Não olhei muito para o quadro, era muito estranho me ver, mas percebi a hora que precisava do brinco de pérola. Sem ele, havia apenas meus olhos, minha boca, uma parte da minha camisa, o escuro atrás da orelha, tudo separado. O brinco juntaria tudo. Completaria o quadro.


{Trecho Extraído do Livro: Moça com Brinco de Pérola – Tracy Chevalier}

Sinopse: Em meio a sua carreira, o célebre pintor holandês Johannes Vermeer pintou uma moça de turbante e brinco de pérola.Este famoso quadro, ´Moça com Brinco de Pérola´, tem sido chamado de a Mona Lisa holandês. Às vezes, a moça parece estar sorrindo sensualmente; outras, insuportavelmente triste...História e ficção se misturam, imperceptíveis, neste brilhante romance sobre sensibilidade artística e despertar da sensualidade por meio dos olhos da jovem que inspirou um dos mais famosos quadros de Vermeer, considerado por muitos especialistas em arte a obra-prima do pintor.
...
A história de como o quadro foi pintado é de uma delicadeza sem fim, a autora escreve muito bem e nos faz acreditar que o que lemos foi o que realmente aconteceu... Mais uma vez me vi envolvida em época e costumes que tanto adoro ler... O filme tbem é muito bom, mas nõo devemos comparar... Vale muito a pena!

Editora: Bertrand Brasil
Assunto: Literatura Estrangeira
ISBN: 852860957X
Idioma: Português
Edição: 1
Número de Páginas: 239

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