quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os Fios da Fortuna...


Prólogo


No início nada havia; depois houve. Antes de Deus não existia ninguém.

Era um vez uma camponesa que ansiava por ter um filho. Tentou de tudo - rezou, tomou chá de ervas, comeu ovos de tartaruga crus e aspergiu água em gatinhos recém-nascidos - , mas nada adiantou. Finalmente, amulher fez uma romaria até um cemitério distante que abrigava um velho leão de pedra. Chegando lá, esfregou o ventre contra o flanco do animal e, quando sentiu o leão tremer, voltou para casa cheia de esperança de que seu maior desejo se ralizasse. Na lua seguinte, concebeu sua filha única.

Desde o dia que nasceu, a menina foi a luz dos olhos dos pais.
{...} Quando fez quatroze anos, os pais decidiram que era hora de casá-la. A fim de juntar dinheiro para o dote, o pai trabalhou duro na lavoura {...}, e a mãe fiou lã até esfoalar os dedos, mas nem um nem outro foi capaz de conseguir o bastante. A menina viu que podia ajudar tecendo, para lhe servir de dote, um tapete que deslumbrasse os olhos. Em lugar de tons vermelho e marron, típicos da aldeia, seu tapete brilhava como azul turqueza de um céu de verão.

{...} A menina vendeu o tapete turqueza a um comerciante de sedas. {...} Uma vez que tinha o dote a menina pôde se casar, e a comemoração durou três dias e três noites. O marido alimentou-a de pepino em conserva durante a gravidez, e o casal teve sete filhos, um por ano. O livro da sua vida fora escrito com a tinta mais brilhante, e Insh'Allah continuasse assim até...

- A história não é essa - interrompi, arrumando o cobertor rústico dos meus ombros, enquanto o vento uivava lá fora. Minha mãe, Maheen, e eu estávamos sentadas, joelho contra joelho, mas falei baixinho porque os outros dormiam a poucos passos de distância.
- Tem razão, mas gosto de contar desse jeito - respondeu ela, acomodando um cacho de cabelo grisalho dentro da echarpe bastante gasta. - Era o que esperávamos para você.
- É um bom final - concordei -, mas vou contar do jeito que aconteceu.
- Mesmo com todas as partes tristes?
- É.
{...} Mamãe me lançou um olhar doce e esperançoso.
- Vamos lá, conte você! - disse ela.
Tomei um gole grande de chá forte, me sentei ereta e comecei a falar.

{Trecho extraído do Livro: Fios da Fortuna - Anita Amirrezvani}


Sinopse: Na Pérsia do século XVII, a vida de uma jovem aldeã sofre uma reviravolta após a passagem de um cometa. Seu pai morre e ela acaba conhecendo a miséria e a descrença. Com o tio, a jovem aprende a arte da tapeçaria, tornando-se a tapeceira preferida do xá Abbas. Com belíssimas metáforas sobre a força das pessoas na construção e costura de suas biografias, e permeada por lendas da antiga Pérsia, "Os Fios da Fortuna" é um romance emocionante que leva o leitor, num só fôlego, a torcer pelo destino de sua personagem, que sonha apenas em não ser mais uma jovem mulher sem nome. Os fios da fortuna é uma bela e intencional homenagem a todos os anônimos artesãos da tapeçaria persa. Anita Amirrezvani ficou nove anos pesquisando arquivos iranianos e escrevendo esse romance, mas com ele alcançou o lugar de uma das mais prestigiadas jovens escritoras do momento.
...
Eu confesso que comprei o livro pelo Título e pela Capa e não me decepcionei... Achei muito legal que cada capitulo comece com uma lenda e ela se mstura com a história... Apesar do sofrimento da personagem principal o livro é escrito de maneira belíssima.. Mas concordo com uma resenha lida no skoob que diz que a tradução do título foi uma traição, o original seria muito mais singelo: “The Blood of Flowers”

P.S.: A autora do comentário tem o nome de usuário: fsamanta, e a resenha original é essa aqui: RESENHA!

Editora: Nova Fronteira
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances
ISBN: 9788520920121
Idioma: Português
Edição: 1
Número de Páginas: 384

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